segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A ilha

A ilha

Preocupados com a escalada da violência, e incapaz de combater a perda de valores
morais e de convivência que vinham tornando a sociedade algo inviável, teve-se a ideia de
criar uma ilha, isolada do mundo, onde tudo pudesse funcionar outra vez.
Nela seria construída a cidade dos sonhos, sem muros, sem armas, onde as leis são claras e
não precisam ser questionadas, e as pessoas pudessem viver livres de qualquer medo. Para lá
seriam transferidos os homens de bem, aqueles capazes de manter a ilha um local onde todos
pudessem confiar em todos, de modo que, para sempre, fosse um lugar ideal.

Todos queriam mudar-se para a ilha. Muitos queriam saber os critérios que definiam alguém ser “de bem”, ou não, para serem chamados. Todos se achavam, de um jeito ou de outro, merecedores. Mas havia um detalhe que criou a maior polemica. Quem fosse para a ilha, não poderia voltar, e quem não se adaptasse a ela, seria convidado a se retirar, e seu destino seria incerto.

Depois de muita discussão, definiu-se que todos seriam chamados a morar lá, desde que nada
fizessem para que a ilha deixasse de ser a ilha, ou seja, um lugar onde ninguém é servido, mas todos se servem, e todos se ajudam, e todos vivem em harmonia. Mas, se transgredisse o equilíbrio do lugar, automaticamente seria excluído.

Mais e mais protestos fizeram divulgar na sociedade que as regras seriam mais
brandas, e alguns desvios seriam tolerados. O fato é que muitos partiam para a ilha, e nunca mais eram vistos.

Até que, um comunicado oficial chegou, dizendo ser fundamental as pessoas se prepararem antes de serem encaminhadas a ilha, pois acontecimentos desagradáveis vinham obrigando medidas mais enérgicas, para resguardar a paz que definia o lugar, e apesar de que todos eram chamados, poucos acabavam escolhidos a ficar. A administração dizia que na ilha não poderia haver lugar para
o mal, para a ganancia, a inveja, a vaidade, que dão origem as desavenças. A ilha fora criada
para ser um lugar especial, para pessoas capazes de mantê-la especial.

A noticia gerou imediata consternação, especialmente porque ninguém sabia quem lá estava,
e nem onde estavam os que lá não ficaram. O sistema foi questionado duramente, e uns diziam
que tudo aquilo era uma manipulação de poucos, interessados em resguardar a ilha só para eles. Então, foi divulgado que todos seriam aceitos, e todos ficaram aliviados

Mas, um dia, alguém começou a gritar e divulgar que havia uma enorme fila do lado de fora da ilha, que crescia, enquanto somente poucos permaneceriam lá dentro. A administração justificou que, como todos achavam que iam de qualquer maneira para a ilha, cada vez menos pessoas se preparavam para ela, e para resguardá-la, medidas foram necessárias.

A partir daí, a ilha virou uma questão de direito, e um levante geral, a beira de uma revolução, forçou a mudança nas regras da ilha. A partir de então, seria necessário abrir um processo, juntar provas, contratar advogados, esperar recursos, até se provar que alguém não seria capaz de viver ali.

Os movimentos sociais estavam satisfeitos, os direitos individuais resguardados.

E então, a ilha deixou de ser a ilha

REFLEXÃO:
O reino de Deus é um lugar desejado por todos, pois entendemos que lá a vida alcança sua
plenitude, e o sofrimento não tem lugar. Diz a bíblia que é onde a fera convive com o animal
doméstico, e as armas se tornam instrumentos de colheita, onde não há medo, nem
desconfiança, nem contenda, somente uma vida de paz.

Muitos discutem quem entrará no reino de Deus, e a  ideia atual é que todos serão salvos, pois Deus é misericordioso. Mesmo Jesus afirmando que a porta é estreita, e recomendando, “vigiai e orai”, compreendemos que ninguém pode nos tirar o direito ao reino. Porém só quem pode nos condenar, é Deus, que não condena, mas pratica a justiça, ou seja, quem nos condena somos nós mesmos que não
estamos prontos para a casa de Deus.

Como pode Deus permitir que alguém vá fazer parte de sua comunidade sem estar pronto
para PERMANECER nela?. A palavra diz: “Muitos serão chamados, mas poucos os escolhidos”.
A idéia de paraíso não tem uma definição clara. Mas nem precisa ser mais que o mundo que
conhecemos, sem as suas mazelas, onde todos podem viver como na ilha, da história.

Permanece lá quem contribui para que o reino de Deus continue a ser um paraíso. Caso
contrário, assim como a ilha foi consumida pela corrupção e perdeu seu sentido, o reino de
Deus perderia também.

E nós, se fossemos chamados hoje, estaríamos prontos??

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