domingo, 25 de setembro de 2011

Judeus e Cristãos - Tão perto e tão longe

Os irmãos judeus
Passamos boa parte de nossa vivencia da palavra nos reportando as glórias de Israel, a fé de Daniel, a fidelidade de alguns ícones da fé com o Senhor, Deus, no antigo testamento, que trata basicamente da história dos filhos de Jacó, ou Israel, ao longo da história, e seu relacionamento com YHWH, Javè, o Senhor.
 As infelidades do povo, os desvios, eram seguidos de desgraças, dispersão, dominação. E a misericordia de Deus, a partir do arrependimento do povo, os conduzia novamente a unidade, esperança e paz. Exaltamos em nossas comunidades os textos que nos impelem a colocar o Senhor em primeiro lugar.
Aproximadamente 500 anos antes de Cristo, os hebreus passaram por uma provação incrível, com Jerusalém destruída, e junto o templo, o povo exilado e espalhado em diversos povoados, como estrangeiros, sem forças, sem esperança. Foram dias terríveis. Mas esta provação, aos poucos, deu lugar primeiro a conclusão que a falta de fidelidade do povo em seu Deus os conduziu a este destino, segundo, deu forças a uma revisão da sua história, a busca de documentos, e a um desejo incontrolável de uma segunda chance. Quando Ciro conquistou a babilonia, e permitiu ao povo de Israel retornar a Jerusalém, com a possibilidade de voltarem a se enxergarem como um povo, uma unidade, em sua própria casa, foi para eles uma grande graça, e um momento de decisão. A partir dalí se  assumiu que a fidelidade em seu Deus seria o centro da vida da comunidade, e se iniciou a busca por formatar  um meio de manter o povo nesta unidade, baseada na fé, e como demonstração, nas leis de Moisés, que deveriam passar a reger as suas vidas. Seria este seguimento que os diferia, e os dava personalidade. Tinha origem, alí, o judaísmo.
Este movimento de fé, esta religião, se fortaleceu e se tornou cada vez mais rigida, como se o receio de flexibilizar fosse degradar a unidade, e tudo se perder. Os próximos 500 anos foram igualmente duros, mas também com momentos de glória, como quando os Macabeus, familia de sacerdotes, lideraram um movimento do povo, desta vez dominados pelos gregos, e foram vencedores, criando novamente o conceito do reino de Israel, e por consequencia, o inicio da relação entre os sacerdotes e o poder politico.
Poder está ligado diretamente com controle, e a fé se mostrou ao longo da história, um meio poderoso para isto. As leis de Deus determinam as leis da comunidade, e dão legitimidade a seus líderes. E assim, o seguimento das leis se tornava peça vital deste controle, mas também corria o risco de acabar por oprimir a vida das pessoas, pois sem conseguir seguir a risca tudo, estavam sempre em pecado, e devedores dos favores do templo, e dos sacerdotes.
Então chegou mais um dominador, Roma. E os romanos, mesmo permitindo a manifestação religiosa de seus dominados, impunham o poder politico, os impostos dedicados a Roma, uma liberdade vigiada que revoltava uma boa parcela da população, e ao mesmo tempo sugeria o seguimento de seus costumes e leis de uma maneira irrepreensivel, para não se sentirem contaminados com o intruso.

 Chega então entre eles, o fenomeno Jesus, que apesar de apresentado como um profeta, um homem de Deus, e aos poucos, como o possível messias, tinha atitudes que transtornavam principalmente os mais preocupados com a retidão dos ensinamentos das escrituras, e da lei. Os fariseus, por exemplo, eram os responsaveis pela disseminação dos preceitos da fé, e dos costumes, e trabalhavam junto ao povo para fortalecer o comprometimento de todos com este caminho, principalmente em face dos tempos que viviam no meio dos estrangeiros.  Porisso era muito dificil para eles aceitar Jesus e seus ensinamentos, que transcendiam o simples seguimento da lei, e muitas vezes poderia ser interpretado como um rompimento da mesma, finalizando pela idéia de divinização de Jesus, que para eles seria uma idolatria, uma blasfemia, uma agressão a Deus, a sua fé, e a sua história.
Enfim, um grande risco, caso aquele homem não fosse quem dizia ser.
Os judeus ficaram marcados, e pelo fato da fé cristã ter crescido e tomado proporções gigantescas em alguns momentos da história, poderiam ter sucumbido. Mas, mesmo assim, conduziram sua fé até os dias de hoje, e é delicado discutir com eles o porque de não aceitarem Jesus da mesma maneira que nós cristãos.
Tenho alguns amigos judeus, que respeitam rigorosamente alguns preceitos históricos, como o de não comer alguns alimentos como porco, alguns tipos de peixes, e mesmo carne, caso ela não tenha sido manipulada dentro das regras judaicas, ou seja, kosher, e ainda, param tudo na sexta feira a noite respeitando o sabat, sabado de Deus, mesmo que isto represente alguma perda pessoal.
Podemos não seguir ou concordar com a prática, mas sem duvida é um grande ato de fé, ou fidelidade ao que se acredita.
Estive lendo sobre o assunto, de modo a escrever sobre o que dificulta ainda hoje para o judeu aceitar a fé cristã.

Entre alguns artigos pude entender o seguinte:
Teológicamente, existem barreiras que nos separam, pois o povo judeu compreende Deus um ser infinito, e mesmo a leitura da palavra deve ressaltar a multiplicidade desta natureza, e porisso os rabinos extraem, das escrituras, infinitas mensagens e ensinamentos. A idéia de Deus presente na figura de um homem, na finitude de um corpo, é inaceitável.
Segundo, a noção de muitos, que nós cristãos acreditamos em um homem que se fez Deus, ou que fizemos dele o nosso Deus, diferente da idéia de Deus, o mesmo Deus de Israel, que mandou o seu filho, essencia de sua essencia divina, para habitar entre nós e nos conduzir a Ele. E como entendemos Jesus como Deus, em sua essencia, assim como o Espirito Santo, creem que divergimos da noção do judeu que Deus é uno, é único, o Todo poderoso. Estariamos então questionando a mensagem fundamental de fé “Escutai, ó Israel, o Senhor teu Deus. O Senhor é único”, que se fundamenta  na unidade de Deus.
Mas na verdade acreditamos em um Deus uno que se fez trino, para nos alcançar mais de perto, fisicamente por intermédio de Jesus, espiritualmente por intermédio do Espirito Santo, porém ainda único, inserido no todo que é Deus. Apesar de ser dificil, para muitos, entender.
Também é dificil para eles aceitarem o conceito da mediação, em que precisariamos de Jesus para mediar nosso relacionamento com Deus. Para eles não há mediação entre eles e Deus.
 Mas como aceitamos Jesus como Deus, no papel do filho, mas essencia de um Deus trino, mas uno, entendemos que nos dirigimos direto a Deus, indo a Jesus. Mesmo os judeus utilizaram ao longo da história mediadores a Deus, como os próprios sacerdotes, que eram necessários para pedir pela expiação dos pecados do povo.  No entanto a relação do povo de Deus, com o seu Deus,no entendimento judaico, como disse, estranha a necessidade de qualquer mediador
Nos primordios das comunidades cristãs, o entendimento dos judeus que perseguiam cristãos, como Paulo, ainda no tempo chamado de Saulo, (antes de sua conversão), era de que Cristãos se tratavam de uma seita que tinha o interesse em desviar a fé do povo de Israel, logo deveria ser combatida.
 A convicção em sua fé secular e na fidelidade aos seus costumes personalizavam o povo judeu, e este povo, aproximadamente quarenta anos após a morte de Jesus, foi disperso novamente pelo mundo, com Jerusalém destruída, seu templo, muitas familias dizimadas. Mais uma vez a sua unidade estaria no seguimento da fé de seus pais. 
No entanto, de potenciais perseguidores, agora seriam eles que sofreriam durante o resto da história perseguições em nome de Jesus. Desde o imperador romano Constantino, convertido ao cristianismo, no seculo 4, que os judeus são perseguidos.
 Roma se tornou cristã, e quem não aceitasse a fé, e fosse batizado, seria morto. Alguns judeus foram batizados, outros mortos, em nome de Jesus. E muitas atrocidades foram feitas em nome de Jesus, o que é dificil para qualquer um entender. Nas intermináveis guerras das cruzadas, judeus foram também queimados ouvindo canticos de louvor a Jesus, assim como na idade média, onde eram discriminados para viverem nos guetos, afastados dos “bons cristãos”, em nome de Jesus. Como eu disse, a religião é um meio poderoso de controle, e a igreja se tornava cada vez mais politica, pessoas transformaram a igreja em um meio de alcançar poder, e ela substituiu o poder da Roma dos imperadores, em decadencia, pelo poder ainda maior validado pela fé.
Nesta época não existiam as diversas denominações de igrejas cristãs como hoje, mas também não adianta se pensar que nenhum de nós, como cristãos, podemos ser questionados por estes fatos, uma vez que as denominações atuais, praticamente todas, derivam daquela igreja, que representava a cristandade. Lógicamente que os conceitos foram questionados e deram origem as novas igrejas, inclusive a atual igreja católica, bem diferente conceitualmente da medieval
No auge deste erro, alguns papas eram nomeados sem nenhuma relação com a espiritualidade, mas pelos poderosos, querendo se perpetuar no poder. A igreja fora sequestrada.
Na inquisição espanhola, muitos judeus foram deportados, torturados e mortos, em nome de Jesus, e em inúmeros momentos judeus preferiram perecer que negar a sua fé.  
É claro que Jesus jamais quis isto, e que muito do que foi feito é fruto da ignorancia humana, perpetuada até hoje nos casos de conflitos religiosos, onde os dois lados na verdade estão no sentido contrário da pregação de suas religiões. Mas de fato, empunhando o nome de Jesus, e entendendo que estavam fazendo a coisa certa,muitos irmãos judeus sofreram absurdamente nas mãos de cristãos
Mais tarde, como já disse, a igreja, que era a católica, começou o seu caminho de volta, resgatando a sua dimensão verdadeiramente espiritual, uma vez que se deparava com o movimento protestante, que gerou a multiplicidade da igreja cristã, e se depurou.
Então é muito dificil o judeu olhar para seus antepassados, que morreram pela afirmaçao de sua fé, e agora aceitarem o cristianismo sem se sentirem traindo a sua história. Isto também dificulta inclusive a discussão do tema com eles
Uma maneira que nos faz verdadeiramente demonstrar a essencia da fé cristã é com o nosso exemplo, perante os judeus e os outros, de pessoas que por serem cristãos, amam, aceitam, acolhem, entendem as diferenças, e assim, manifestam a vontade, e os ensinamentos de Jesus.  Nossa crença se manifesta em nossas atitudes, e é principalmente assim que vão valorizar nossa fé.
Bençãos para todos!

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