quinta-feira, 30 de maio de 2013

SE EU FOSSE O PRINCIPE DO MAL

Se eu fosse o príncipe do mal

 

Se eu fosse o príncipe do mal, e, incumbido de semear os alicerces do meu reino, planejasse as minhas ações, silenciosa e sorridentemente, certamente me apoiaria nas melhores intenções. Afinal, os homens são cheios de boas intenções. E assim, não tardaria em construir uma sociedade a meu dispor.

Todos buscam melhorias para as suas vidas, e eu apenas iria ajudá-los. Sob algum ponto de vista, todo errado tem um viés de certo. E afinal, quem gosta de estar errado?. Vamos valorizar o que é certo!. O certo é que todos se proponham a buscar a sua própria felicidade, afinal, isso lhes é de direito. Meu papel seria apenas indicar o caminho.

Para me auxiliar, recorreria a velhos aliados, os quais forjaram o mundo, e hoje são ainda mais exaltados. A singela vaidade, o nobre orgulho, a solidez das convicções, e o medo. Meus atores os fariam contemplar cada um, a si mesmo, em toda sua beleza, desejos e receios, e cegar para os outros.

A vaidade transforma pequenas discussões em conflitos, e o orgulho, os pereniza e inibe o perdão.

Inspiraria a criação de coisas maravilhosas, que todos gostariam de ter, para que eles façam qualquer coisa para obtê-las. Aos mais fortes de caráter, daria ainda um conjunto de obrigações que os faria trabalhar tanto, que seriam incapazes de cuidar de suas famílias, e passarem o tempo adequado com seus filhos, e educá-los. Afinal, para que pressa?. Será muito mais fácil forjar cada nova geração no sentido que desejo. Para isso, trabalharia nas suas raízes.

Usando os exemplos das famílias mais fracas e desajustadas, onde eu posso influenciar o desamor, faria com que os pais cometessem os maiores absurdos contra seus filhos, para que assim, por medo, todas as famílias fossem tratadas com desconfiança, e a autoridade dos pais questionada. Em seguida, inspiraria pessoas de boa intenção a protegerem demasiadamente o direito das crianças, tornando-os intocáveis, e os lançaria em modelos de educação lindos em teoria, mas que eles não fossem capazes de executar, pois roubei-lhes o tempo

Então, desde pequenos, cheios de vontades e direitos, usaria o ambiente de sua formação, as escolas, para fomentar disputas, discórdias e discriminações. Em casa, inspiraria uma mídia super interessante, que retratasse os pais como retrógrados, cafonas, distantes, e incentivaria a busca pelo novo, o descartável, o lançamento, e motivaria o "Dá um tempo", e o "faço o que eu quero". Aliás, adoraria esta frase!.

Em suma, colocaria os filhos contra seus pais, incentivando-os a assumirem seus direitos e saírem de casa o quanto antes. Assim teria mais espaço para influenciar as almas em construção. Por outro lado, usaria o argumento "em construção" para deixar impune as ações dos que fui capaz de absorver e assim, criaria uma massa de jovens trabalhando a meu favor, aliciados pelos adultos que já manipulo.

Faria que o termo liberdade se tornasse confuso aos homens. Incentivaria todas as minorias a lutarem pelo seu direito de manifestar suas opções, em nome da liberdade, e em nome desta mesma liberdade, obrigaria as maiorias a não poderem manifestar suas opções. Bastaria inspirar as pessoas de boa intenção a alegar que irá ferir a liberdade destas minorias. Assim, de um lado alguns exerceriam sua liberdade livremente, enquanto o que hoje me incomoda nas maiorias, seria suprimido.

Por exemplo, afirmando que todos tem o direito de ter a sua religiosidade, transformaria a mesma aos poucos em mera superstição, e o direito em manifestá-las em dever de esconde-la por respeito aos outros.

E mais. Transformaria o termo religião em motivo de discórdia, (bem vindo o orgulho das convicções que turvam as melhores intenções), pois, procurando afirmar serem detentores da verdade, inspiraria os de melhor intenção, os mais dedicados, a defenderem seu ponto de vista até a morte, principalmente pontos que os diferenciam, uns dos outros, igrejas de igrejas, esquecendo da essência que as unem, o maldito amor. Transformaria a busca do bem em mal. Assim, todos evitariam tratar do tema com medo de confusão, e eles esqueceriam que unidos, e valorizando suas essências e intersecções, poderiam me enfraquecer.

Com as melhores intenções, transformaria os países em estados laicos, para que confusos com este significado, no médio prazo os transformassem em estados ateus. Proibiria, aos poucos, todas as manifestações publicas de fé particular, (justificando o direito dos que não tem fé), e o ensino religioso nas escolas, em nome das minorias. Afinal, a liberdade não estaria em viver, cada um, sua fé, livremente, sem que o outro se incomodasse com a sua manifestação, mas exatamente o contrário. Em países da perigosa cultura cristã, seria especialmente útil. Não fazer o mal, seria para eles fazer o bem, e a sua omissão, um conforto. Para eles, e para mim.

Daí lançaria mão do medo. Moveria uma sociedade de desconfiança. Incitaria neles o egoísmo, tornando-os cegos as necessidades dos necessitados, e nestes, incitaria a revolta, para que eles se permitissem tomar a força, o que lhes foi negado. Inspiraria os mais fracos de espirito as piores atrocidades. Roubaria a paz e a tranquilidade. Apoiado nas melhores intenções dos indignados, transformaria a palavra justiça em vingança, e os jogaria nas prisões. Estas, que deveriam corrigir, transformaria em minhas universidades do mal. A sede de vingança ofuscaria qualquer lógica. Assim, construiria meu exercito mais facilmente, transformando pequenos delinquentes em competentes criminosos.

Finalmente teria a desconfiança generalizada, e cada um se defendendo, destruiria a cultura do comum, do serviço, da misericórdia, e os lançaria na solidão do ego. Eles desenvolveriam doenças emocionais, indefesos e perdidos. Neste momento o meu reino viria como uma bola de neve, crescendo mais e mais, e eu, sorridente e silencioso, contemplaria a minha glória.

Um plano....

Este plano lhe é familiar..?

Estaria ele sendo colocado em prática..?

Tudo estaria perfeito, a não ser que alguém descobrisse o plano, e os alertando, encontrasse vozes que os movessem a ação. E eles tornariam a encontrar no amor e nos relacionamentos verdadeiros, na verdadeira família, na entrega de seus corações ao outro, na educação de valores, na misericórdia e na compaixão, na humildade e solidariedade, a cura de seus inúmeros males.

Um dia alguém que nos amava plantou uma semente, regou com Seu sangue, e nos entregou para cuidar. E nós, diante disto?. Calamos, ou nos associamos a voz que renova todas as coisas?

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